terça-feira, 24 de maio de 2011

«Quando me aborrecer vou-me embora» - Pedro Proença (Actualizada)


Foi considerado por A BOLA o melhor árbitro desta temporada na Liga, no ano em que se afirmou internacionalmente. Pedro Proença diz-se orgulhoso pelo seu percurso mas divide os louros com o resto dos seus colegas. Admite que a imagem dos árbitros tem de ser mudada, mas que os adeptos também precisam de deixar de ser facciosos...

Terminada a época desportiva, foi considerado por A BOLA o melhor árbitro da Liga. Isto é sinónimo da evolução da arbitragem?
- Nada se consegue em termos individuais se não formos apoiados pelos colegas. Esta época deu-se mais um grande salto qualitativo na arbitragem portuguesa, a prestação generalizada foi boa, ter sido considerado o melhor é sinónimo de grande contentamento.

- Então depreende-se que o balanço é bastante positivo, não só em termos individuais como também colectivos.
- Sem dúvida. O conjunto dos árbitros da 1.ª categoria superou as expectativas. E a nível individual foi uma época de afirmação internacional.


- De todos os jogos que dirigiu, tanto em Portugal como no estrangeiro, quais destaca pela positiva?
- A nível internacional penso que o Bayern Munique, 2-Inter de Milão, 3, que foi considerado o melhor jogo da Champions. Sinto-me satisfeito comigo próprio e com os colegas que me acompanharam nesse jogo. A nível nacional talvez destaque o FC Porto, 3-SC Braga, 2. Um jogo com muita emoção, que acabou por ser repetido na final da Liga Europa.

- Qual a sua opinião quando se diz que os árbitros portugueses apitam melhor lá fora?
- É uma ideia completamente errada. A preparação de um árbitro é igual para todos os jogos, tanto em Portugal como no estrangeiro. Não é que se apite melhor ou pior, mas lá fora estamos noutro enquadramento, numa terra que não é a nossa, em que não há antecedentes... Pode existir nas pessoas a ideia de que as prestações são melhores mas o grau de dificuldade é igual.


- Que opinião tem sobre a profissionalização da arbitragem? É o passo que falta dar para que se verifique maior qualidade?
- A profissionalização é um caminho inevitável, mas sou céptico e acho que já não vai acontecer na minha geração. Um árbitro que trabalha 10 ou 12 horas por dia e depois, já cansado e stressado, é que vai treinar-se não tem margem para evoluir, que é o que se verifica ao nível dos distritais.

- Mas existem condições para que se avance com a profissionalização da classe?
- Temos de prestar homenagem ao Vítor Pereira, que tem feito de tudo para concretizar o sonho de ver a arbitragem profissionalizada. Todos sabemos que o momento macroeconómico não é fácil e sem dinheiro não se consegue fazer coisas. Não dando condições não se pode exigir mais. Embora as condições que a Liga coloca à disposição dos árbitros sejam boas, falta um clique para se avançar com o investimento.

- Contudo, já afirmou que quando chegar a profissionalização deixa de apitar a este nível. Porquê?
- A grande independência e autonomia que tenho em relação ao futebol e à arbitragem tornam-me mais livre. Essa é uma das partes negativas da profissionalização, mas é inevitável. E quando me aborrecer vou-me embora. Aliás, até costumo dizer que perco muito dinheiro com o futebol. Estou na arbitragem por prazer, é um sonho de há 20 anos.

- Então quais são os seus objectivos?
- Não traço objectivos a longo prazo, quero fazer de cada jogo um motivo de interesse. Esse é o desafio perante todos os encontros, é isso que me motiva. A procura da excelência sem querer prejudicar ninguém.

- Concorda que a imagem dos árbitros em Portugal não é das melhores?
- Sim, por variadíssimos motivos. Como já referi, ao contrário de jogadores e dirigentes, só nos apontam os erros de agora e do passado...

- O que poderia ser feito para reverter essa realidade?
- Penso que a classe se podia abrir mais a nível interno. Em situações pontuais até promover esclarecimentos públicos. Além disso é preciso que as pessoas deixem de ser facciosas e entender melhor os árbitros.

- Defende que após os jogos os árbitros deviam surgir nas salas de imprensa?
- Não digo que fosse logo após o jogo, nem que fosse necessário em todos os encontros. Periodicamente devia haver esclarecimentos, que fossem pedagógicos e construtivos, e não para servir como ajuste de contas.

- Já alguma vez foi abordado na rua por algum adepto? Como reagiu?
- Essa é a parte menos boa, porque ao contrário dos jogadores, nós somos vistos como os maus da fita e, consequentemente, só os erros é que nos são apontados. Felizmente não têm sido muitos os casos mas, claro, são sempre situações desagradáveis.
In:ABola

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