quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Algarvia Sílvia Domingos tem paixão por arbitrar

Ninguém na família abraçou a arbitragem, tão-pouco tinha amigos na missão de apitar. Tratou-se, por assim dizer, de um gosto que virou paixão. Hoje em dia, aliás, Sílvia Domingos não consegue passar muito tempo sem um jogo para dirigir. "Desde pequena que sempre gostei de futebol. Estudava na área de Desporto quando surgiu a hipótese de tirar o curso de árbitro. Fi-lo… mas nunca pensei que fosse para seguir a carreira."

Foi em 1999. Sílvia tinha então 16/17 anos e começou a abdicar das saídas, por ser incompatível deitar-se tarde aos sábados e apitar desafios no domingo de manhã. "A princípio custou-me. Todo o adolescente gosta de conviver e fazer umas noitadas, mas depois adaptei-me." Agora, aos 28 anos, a árbitra de Faro congratula-se com a opção tomada: é a número 1 do quadro feminino.

"O orgulho é indescritível, mas não estava à espera, até porque fracturei um pulso e estive um tempo parada", diz Sílvia entre um enorme sorriso. "Tem um sabor especial e é deveras gratificante. Só que quero mais. Dediquei-me à arbitragem de corpo e alma, abdiquei de muita coisa", confessa, pelo que o passo seguinte, admite, "é chegar ao topo" - receber as insígnias de internacional.

A nível nacional, Sílvia apita jogos do campeonato feminino, das camadas jovens e da I Divisão distrital de seniores. "É claro que compensa. Não falo do aspecto monetário, que pouco me interessa, mas sim do alimentar desta paixão e das grandes amizades feitas ao longo desta dúzia de anos", garante.

Em Setembro vai à Macedónia, como assistente, na linha de outras deslocações ao estrangeiro. Diz que não tem complexos e sente que o público "vê com bons olhos" uma mulher a apitar. E os jogadores? "Têm respeito. Também não sou de dar confiança, e é raro sorrir. Às vezes, lá ouço uma boca, mas consigo manter a distância", opina Sílvia, admiradora do estilo de Jorge Sousa.

O dia começa cedo - é gestora de loja - e ao fim da tarde, quase diariamente, treina na Pista Municipal de Faro, cuidando do físico e de aspectos técnicos. Volta a casa, janta e deita-se. "Levo uma vida pacata. Os meus pais? De início não acharam muita piada, mas hoje têm orgulho na filha e dão-me todo o apoio", garante Sílvia antes da frase que define a sua paixão: "Preciso mesmo da arbitragem!"

Sílvia Domingos na Final da Taça de Portugal Feminino 2011 - Quarto Árbitro

Admirador ofereceu-lhe flores em pleno relvado

A cena, digna de uma antiga publicidade a um desodorizante, passou-se num estádio algarvio em que a jovem árbitra dirigia um jogo e deixou Sílvia Domingos perplexa, até um pouco envergonhada. "Um admirador pediu autorização e desceu ao relvado para me entregar um ramo de flores", conta a árbitra. "Fiquei sem reacção", recorda. Mas o gesto não a inibiu, e a árbitra dirigiu o encontro com a serenidade habitual. "A arbitragem portuguesa está bem, e temos juízes de qualidade", diz, lançando um olhar geral sobre a actividade: "Errar, todos erram, incluindo os jogadores." E as famigeradas repetições televisivas? "Não vamos por aí…", descarta, elogiando, a terminar, as três árbitras (Berta Tavares, Márcia Pejapes e Sandra Bastos) lusas com estatuto internacional.

In: Jogo

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