quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Antigo árbitro Teixeira Dória: «Pinto da Costa foi um dos responsáveis pela minha descida na arbitragem»

As memórias mais recentes de Teixeira Dória, no mundo da arbitragem, são agradáveis e escondem, de algum modo, as mágoas dos tempos em que oficialmente dirigia jogos de futebol. A par, obviamente, de momentos felizes. Afinal, foram muitos anos nos “pelados” e relvados deste país.
«Fui para a arbitragem por influência dos professores Eleutério de Aguiar, dirigente, e Alder Dante, árbitro internacional», lembra Teixeira Dória que dedicou 17 anos da sua vida à arbitragem, «16 dos quais nos quadros nacionais, primeiro como fiscal-de-linha e depois como árbitro». Em todo esse tempo, fica a «grata recordação» de se ter estreado na I Categoria Nacional «num jogo do Benfica».

«Também nos observadores havia compadrio...»

Já lá vão muitos anos, é verdade. Em 1993 Manuel Teixeira Dória colocava um ponto final na sua vida de árbitro. «Estive dois anos como observador mas abandonei ao aperceber-me que, também aí, havia falta de transparência. Dominava o compadrio e, como nunca pactuei com irregularidades, achei por bem retirar-me, apesar dos insistentes apelos para continuar», conta.
Tudo isso, porém, não impede o antigo árbitro madeirense de reconhecer que «adorei ser árbitro». «Tanto que, ainda hoje, sonho com as nomeações», acrescenta, a sorrir, mesmo que considere ter sido alvo «de várias injustiças». «Entre elas destaco o facto de ter sido o único despromovido da I Categoria sem ter sido último classificado, o que significa que quem ficou atrás de mim não desceu. Os outros Conselhos de Arbitragem mexeram-se, o da Madeira nem uma palha…», lamenta.
Teixeira Dória refere, inclusive, que havia «alguém na Madeira interessado» na sua despromoção, confessando ter identificado quem é esse "alguém" embora se escuse a revelá-lo. Apenas diz que as «únicas pessoas que me apoiaram foram Rui Marote e António Henriques».

Umas histórias de relógios...

No âmbito nacional Teixeira Dória não tem pejo em apontar o dedo: «Pinto da Costa foi um dos responsáveis pela minha saída do escalão principal do futebol português, após garantir-me que eu chegaria a internacional». O antigo juiz madeirense garante, contudo, que procurou «esquecer as tristezas». «Porém, recentemente – acrescenta – confidenciaram-me que há uma história de relógios que ainda poderá dar que falar. Já entreguei o caso ao meu advogado», limita-se a apontar.
No lado positivo, Teixeira Dória não esquece «o apoio do saudoso Francisco Santos, pai do actual seleccionador da Grécia, Fernando Santos, e de Alder Dante».

Recordar velhos amigos no regresso à actividade

Após vários anos desligado da arbitragem, Teixeira Dória foi convidado a regressar à actividade. «Pediram-me para colaborar, como árbitro, no Torneio de Veteranos. A princípio hesitei por pensar que não estava com condições físicas para tal, mas depois decidi experimentar e, como senti que ainda era capaz, há quatro anos que colaboro no Torneio organizado pelo Marítimo». E está satisfeito: «Faço-o com todo o gosto pois é um prazer reencontrar velhas glórias, grandes amigos, muitos dos quais eu vi nascer para o futebol».
É assim que surge a presença de Teixeira Dória no Torneio Internacional de Macau, integrando a representação portuguesa na prova, no caso feita pelo C.S. Marítimo. «Foi uma grande honra para mim», confidencia, dado conta de que se apercebeu «mesmo por essas bandas tão distantes que o Marítimo é bastante acarinhado e respeitado».

«Marco Ferreira é parecido comigo»

O antigo árbitro Teixeira Dória aponta que a Madeira «sempre teve bons árbitros embora nem todos tiveram sorte». Na lista de nomes, «além de Albino Rodrigues e Manuel Correia», Dória recorda «Élvio Faria, José Luís Abreu, Avelino Silva, Vasco Silva, Eduardo Olim, Leonel Silva, Carlos Batista, Cabral Rodrigues, Filipe Aguiar, Nélio Mendonça e, mais recentemente, Emanuel Câmara. E os que estão no primeiro escalão do futebol português, Elmano Santos – meu antigo aluno – e Marco Ferreira – um árbitro de grande nível, parecido comigo na forma de arbitrar». Depois desta análise madeirense, Teixeira Dória alarga horizontes e estende a sua opinião. Que, de um modo geral, reconhece se apresenta «muito crítica» para com os árbitros. «Reconheço que talvez exagere mas não desculpo a dualidade de critérios», destaca, afirmando haver «situações clamorosas». «E como são sempre os mesmos não é difícil concluir que não são isentos. Com as condições que hoje os árbitros têm, incomparáveis às do meu tempo, sob todos os aspectos, é de exigir mais e melhor», conclui.

Orgulhoso e comovido

Manuel Teixeira Dória marcou presença no Torneio Internacional de Macau e a sua actuação mereceu rasgados elogios. «Fiquei feliz por ter sido o árbitro da final de uma das séries», aponta o madeirense que não esconde que esse jogo «correu-me muito bem». «Todos me felicitaram e logo aí a organização pediu-me para dirigir, no dia seguinte, a final do torneio», situação que, porém, não viria a acontecer. «Havia uma equipa de arbitragem nomeada, que já estava equipada quando cheguei ao recinto e que não abdicou de dirigir esse jogo, apesar dos apelos da organização», relata Teixeira Dória. Essa pequena mágoa é colmatada «com a esperança e a promessa de num futuro próximo poder fazer esse jogo». A verdade é que pela sua prestação, Teixeira Dória foi distinguido pela organização como "Melhor Árbitro" do Torneio, recebendo, por isso, um troféu. «Deixou-me surpreendido, orgulhoso e até comovido, ao ponto de não ter conseguido evitar as lágrimas», revela.

Análise. Teixeira Dória faz uma auto-análise e diz: «Com quase 60 anos, ter coragem de me equipar e ainda ser capaz de dar umas carreirinhas é mostrar a quem tentou denegrir a minha imagem que, apesar de alguns defeitos, não levei uma vida assim tão desregrada. É caso para dizer: uns têm a fama e outros o proveito…».

Macau. «Com todo o respeito que tenho pelo meu velho amigo e colega de tropa, desafio o presidente do C.S. Marítimo, senhor Carlos Pereira, a acompanhar a equipa de veteranos do clube na próxima deslocação a Macau», refere Teixeira Dória que vai mais longe: «Todos os madeirenses que sonham conhecer novos mundos e passar umas férias em locais distantes, deviam optar por Macau. A beleza, o sossego, a organização, a educação das pessoas… enfim, tudo é convidativo a umas férias inesquecíveis».

Recordações. «Como boas recordações da arbitragem não posso esquecer o facto de ter sido o primeiro árbitro madeirense a alcançar a posição cimeira na promoção à principal categoria nacional. Guardo esse troféu com muito orgulho. Também prezo-me de ter sido o primeiro árbitro da Madeira a actuar, na qualidade de 4.º árbitro, num internacional entre selecções A, no Estádio dos Barreiros, entre Portugal e Malta. Fui, ainda, o árbitro que dirigiu mais finais do célebre Torneio Autonomia, por imposição da AFF».

in: jornal da madeira

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