terça-feira, 10 de julho de 2012

Pedro Proença: «Dirigentes não pretendem uma arbitragem melhor»


RECORD – A tónica do seu discurso tem sido a profissionalização. Isto é mesmo algo que deve preocupar a arbitragem?

PEDRO PROENÇA – É o grande passo que falta para que a arbitragem nacional dê o último salto em termos de qualidade, para podermos ombrear com a arbitragem do resto da Europa. Toda a gente já percebeu que, neste espetáculo absolutamente profissional, continuarmos a ter árbitros amadores, em regime pós-laboral, exatamente como acontecia há 40 anos. E é isso que não lhes permite ter melhores desempenhos. É inevitável para a nova geração de árbitros, com muita qualidade, que sejam criadas condições para que aconteça mais vezes o que aconteceu comigo neste espaço de tempo.

R – É uma questão de mentalidade dos dirigentes portugueses? É por isso que não é dado o passo que falta?

PP – A verdade é que os dirigentes não pretendem uma arbitragem melhor. O caminho foi trilhado e explicado às pessoas há muitos anos. É muito fácil, depois de um jogo ou de uma competição, dizer que não existiram arbitragens competentes. Quando se inicia uma nova época, o discurso volta à estaca zero. As pessoas percebem quais são os problemas, sabem perfeitamente o caminho que devem seguir, mas no momento de dar condições à arbitragem para dar o salto qualitativo, preferem não dar. E, para se conseguir dar esse passo, o que estamos a falar não é sequer 10% da transferência de um jogador médio. Quando chega o momento, toda a gente assobia para o lado e ninguém assume as suas responsabilidades. Quando acabam as condições, volta o discurso do calimero.


R – É a velha questão do bode expiatório?

PP – Sempre. É muito mais fácil atribuir aos outros as nossas incompetências do que reconhecer que nós próprios fomos incapazes de fazer melhor. O desviar de atenções para os árbitros é muito mais fácil. E nós sabemos isso perfeitamente. Os árbitros estão no limite das suas capacidades. E então com o aumento das competições que se fez agora, é absolutamente inacreditável aquilo que está a pedir-se ao sector da arbitragem.


R – Estaria disponível para, quando terminar a carreira, continuar a defender os interesses dos árbitros num cargo diretivo?

PP – Não tenho essas pretensões. A arbitragem para mim terminará no dia em que apitar o último jogo.

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RECORD – Como é que se consegue chegar à final de um Europeu?

PEDRO PROENÇA – Com muito trabalho, com dedicação, com vontade de fazer bem, dentro das parcas condições que temos, neste regime amador. Mas o fator sorte também tem de ajudar. Houve um conjunto de situações nesta competição que permitiu que uma equipa de arbitragem portuguesa pudesse chegar à final, como, desde logo, o facto de a Seleção Nacional não ter lá chegado e os excelentes desempenhos que a nossa equipa foi tendo. Aliás, desempenhos elogiados pela UEFA. Assim chegámos a final da Liga dos Campeões e também à final do Europeu.

R – Mas não conta só o momento. Há também um histórico, ou não?

PP – Conta o histórico e tudo isso começou com o trabalho fantástico do Vítor Pereira, passando depois pelo Lucílio Baptista, culminando no Olegário Benquerença. E eu, agora, pude dar seguimento. É todo um trabalho que as pessoas pensam que não existe mas que tem vindo a ser reconhecido pelas instâncias internacionais.

In:Record

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